MULHERES - O DRAMA DA MUTILAÇÃO GENITAL
Dor e lágrimas: meninas sofrem mutilação genital no Quênia
Mesmo proibidas por lei, tribos do país continuam com a prática
A mutilação genital feminina, realizada nas adolescentes sem uso de anestésicos, é uma prática mais comum do muitas pessoas imaginam, ela ainda é bastante usual no Quênia, Somália, Egito e outros países africanos, existe também em nações do Oriente Médio, como Iêmen e Iraque.
A ONU por meio da Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) relata que mais de 125 milhões de mulheres já foram submetidas à prática em 29 países da África e do Oriente Médio, onde há maior incidência de casos, dessa forma estima-se que um número maior de mulheres sofreram com mutilação feminina em todo planeta.
Em diversas tribos africanas, a mutilação genital é comum para jovens meninas na fase de transição para a vida adulta (adolescência/puberdade). O “procedimento” inclui a remoção parcial ou total dos órgãos genitais externos, além da costura da vagina. Assim, seguindo os ensinamentos dos ancestrais, as tribos creem que a fêmea tenha o desejo sexual reduzido, e que isso colabore para que a honra da família não seja maculada.
Em novembro de 2014, Siegdfried Modola, fotógrafo da agência Reuters, capturou cenas da cerimônia na tribo Pokot, numa zona rural do Quênia, onde, apesar do ritual ser proibido por lei, continua presente na rotina das meninas.
Nuas e cobertas apenas com uma capa feita de pele de animal, as meninas são levadas pelas próprias famílias para o ritual. Segundo relatos do fotógrafo, a mutilação é motivo de orgulho para os pais. Uma das mães, disse que acreditava que a dor faria a filha mais forte.
A mutilação genital, proibida desde 2011, já foi realizada em cerca de 25% das mulheres quenianas. Apesar dos esforços do governo em acabar com a prática no leste africano, os entrevistados confirmaram que ainda existem muitos casos dentro das tribos e em diversas culturas.
"É uma tradição que vem acontecendo sempre", disse o pai de uma das meninas, que pediu para não ser identificado, com medo de represálias. “As meninas são mutiladas para se casar. É a transição de uma menina para mulher”, completou.
Famílias inteiras participam do ritual, somente mulheres assistem ao ato da mutilação. Durante os dias que antecedem o procedimento, as pessoas fazem uma verdadeira festa, com danças e comidas típicas. As meninas permanecem assustadas por saberem que, em seguida, vão enfrentar uma dolorosa e cruel cerimônia.
Nos rituais, qualquer objeto cortante, como lâminas de barbear, tesoura ou vidros pontiagudos, podem ser utilizados no procedimento. Para essas pessoas, a cerimônia de mutilação faz parte de um momento de transição na vida das jovens e é extremamente necessária.
A legislação do Quênia, por exemplo, prevê prisão perpétua para os responsáveis pela mutilação em caso de morte da vítima. Além da dor quase insuportável, o ato pode causar hemorragias, choques psicológicos e complicações futuras na vida sexual da mulher e o parto, para as que serão mães.
O país criou uma ‘Unidade de Acusação’ e investiga 50 casos já denunciados. Os funcionários estão otimistas, acreditando que há a possibilidade de que as pessoas deixem a prática, entretanto, temem que o pensamento sobre o assunto já esteja muito presente na mente e história das tribos.
A dirigente do ‘Centro de Acusações’, Christine Nanjala, acredita que a mutilação será exterminada. "Não amanhã, mas isso vai acabar. Se a gente chega ao fim do dia sem esperanças, a gente acha que nosso trabalho é em vão", diz.
Algumas meninas não resistem tamanha dor e desmaiam durante o procedimento. Elas são amparadas por outras mulheres, inclusive suas mães, que incentivam o ritual. As Nações Unidas estimam que, na próxima década, mais de 30 milhões de mulheres passarão pelo processo de mutilação.
Ao fim do ritual, as meninas são pintadas com uma tinta branca, que indica que a mutilação foi realizada e que a partir de então, a jovem está pronta para o casamento.
No cair do dia cessam-se as cerimônias; as mulheres da tribo Pokot finalmente podem descansar, enquanto se aquecem em uma fogueira. No dia seguinte, outras jovens moças serão mutiladas pelas mulheres mais experientes (mais idosas).
Egípcias iniciaram levante contra a cruel, dolorosa e absurda prática da mutilação genital. Recorreram à ONU e outras organizações para obterem auxílio, no intuito de conseguirem colocar ponto final na impiedosa e chocante ritualística, mas até o momento não houve mobilização social, local ou internacional, que produzisse uma fiscalização eficiente que gere o banimento do ato. [Adilson Souza Gonçalves – Jornalista, Advogado, Prof. de História, Teólogo]